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quarta-feira, 18 de julho de 2007

Do pincel ao mouse

POR MIREYA CASTAÑEDA — do Granma Internacional

O vocabulário das artes plásticas começa a ser enriquecido. À tela, à paleta, ao óleo devem ser acrescentados chips e megabytes, display e mouse. Termos, que embora os puristas do idioma prefiram traduzir, estão tão generalizados que pareceria uma afetação.

"A arte digital chegou para ficar", asseverou o diretor do Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, Víctor Casaus, ao inaugurar o 9º Salão e Colóquio no início deste verão.

Os salões — outra idéia de vanguarda do Centro — converteram-se em espaço de diagnóstico e de incitação, em estímulo à confrontação e à superação dialética. "Com a tensão entre as propostas mais tradicionais e as experimentais irá crescendo o amadurecimento dessas técnicas como novos meios de expressão artística", considerou o cineasta Enrique Álvarez, que integrou o júri.

Mais de 100 artistas cubanos, na categoria de obra impressa, e 39 em audiovisuais, apresentaram seus trabalhos no concurso e foram premiados, em obra impressa, Leriam Jiménez, primeiro prêmio, com Software educativo, "por seu inteligente manejo do suporte, coerência formal e conceitual, e hábil inserção do didático para sensibilizar o receptor em relação a situações de interesse público, sem mermarem os valores expressivos próprios da linguagem digital", enquanto em audiovisual, o primeiro prêmio foi para Mauricio Abad por Carlitos y el silencio (Carlitos e o silêncio), El sueño de la razón produce monstros (O sonho da razão produz monstros) e Bocetos de olvidos (Esboços de esquecimentos), e nela se destaca "uma grande habilidade para construir um discurso existencial sobre a realidade, a partir da interação entre diferentes níveis da linguagem".

O júri, composto por Enrique Álvarez, Jorge Bermúdez, Víctor Casaus, Laura Llópiz e Rafael Villares, deixou constatação, ademais, da quantidade e qualidade das obras apresentadas, da cada vez maior fidelidade à linguagem específica da arte digital alcançadas por elas, do empenho ciente da maioria de seus autores na criação de uma arte digital com características nacionais, bem como da ampla presença e do enorme protagonismo das novas gerações de artistas nestes salões, tentando estampar os traços e as contradições, as razões e as esperanças de sua época, através das novas possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias informáticas".

Quanto aos prêmios, o Prêmio Especial Pablo foi outorgado neste certame ao compositor cubano Juan Blanco, precursor da música eletracústica na Ilha. Um concerto com algumas de suas obras, e a dissertação dos especialistas Enmanuel Blanco e Jorge Bolaños acerca da música eletracústica, feita na Ilha desde 1961, e do papel do Laboratório Nacional de Música Eletracústica e do Festival Internacional Primavera de Havana, dedicados à promoção desta corrente desde 1982, completaram a homenagem.

O Colóquio intitulado A arte Digital: um olhar para dentro, se realizou no Palácio de Governo na zona histórica da Havana Velha, com temáticas como A arte digital: para melhor nos olhar, de Víctor Casaus; Conhecer e conversar: os ganhadores, um intercâmbio com os artistas ganhadores; Algumas relações entre o design gráfico e a arte digital, pelo professor Jorge Bermúdez; Abrindo espaços: arte e gráfica no Centro Pablo, pela especialista Carina Pino Santos; e Clic: da América Central, uma experiência jovem da arte digital, pelo salvadorenho Ángel Alonso, artista digital e curador.

Durante sua intervenção a respeito da abrangência da arte digital em Cuba e seu futuro, Casaus, presidente do Comitê Organizador, precisou que no 9º Salão quisemos "confirmar também nosso compromisso com a memória, da qual somos fiéis guardiães e ativos fazedores".

Salientou então a criação de cinco páginas da Web nos portais de Cubasí e Cubarte, convertidas no "único museu virtual da arte digital no continente, com obras de quatro centenas de artistas de mais de 35 países, entre eles, Cuba".

Neste 2007, o Colóquio tentou fazer uma avaliação introspectiva ao quefazer de quase uma década de atenção e cultivo da produção de arte digital em Cuba — comentou — um exame, que, não por ser contextual ou próximo, deixou de avaliar e enriquecer a evolução que teve a manifestação em Cuba.

AS DIVERSAS EXPOSIÇÕES

O 9º Salão de Arte Digital fica aberto neste mês de julho. Os prêmios, menções, obras selecionadas pelo júri e uma mostra do resto dos participantes estão expostos nas galerias da Casa da Poesia e na Sala Majadahonda do Centro Pablo.

As mostras Shot, no cinema 23 e 12, do Vedado; a dos artistas ganhadores no Salão de Arte Digital da Fundação Clic, de El Salvador, está no Centro Cultural Cinematográfico do Icaic, em El Vedado, e Conexão interna no Centro Hispano-Americano da Cultura.

Shot é integrada por 34 peças, fruto de uma oficina de fotografia realizada na Academia de San Alejandro pelo professor Jorge Luis Rodríguez com estudantes de pintura de segundo e terceiro ano e talvez seja por isso que alguma crítica falou de "um diálogo entre a Academia e a arte digital", com as novas tecnologia que incorpora.

Clic reúne as peças de três criadores de El Salvador, premiados em salões digitais, enquanto Conexão interna é composta por obras impressas e vídeos de Eduardo Moltó, Eduardo e Orlando García (Projeto Siameses), Ernesto Piña, Fernando Pendás, Juan William Borrego, Katia Hernández, Enrique Smith, Yanes Llanez e Ángel Alonso. Todos eles são prêmios, menções e júris de anteriores Salões da Arte Digital.

SHARING DREAMS / PARTILHANDO SONHOS

Ainda quando este 9º Colóquio decidiu se concentrar em figuras da arte digital da Ilha, estranhou a presença de seus colegas norte-americanos, que, por três anos consecutivos, estiveram Sharing Dreams / Partilhando sonhos.

Então, foi muito gratificante a notícia dada pelo diretor do Centro Pablo: o projeto vai participar do Congresso Mundial de Design de Icograda, a se realizar em outubro próximo em Havana.

Para essa data — precisou — designers gráficos de Cuba e dos Estados Unidos, atravessarão, pela quarta vez, a fronteira digital para expor suas visões sobre o design na cultura e a cultura no design, convocados novamente pelo Center for Cross Cultural Design do American Institute of Graphics Arts (Aiga), o Centro Cultural Pablo e o Comitê em Prol da Gráfica Cubana.

A norte-americana Toni O´Bryan, que foi — junto ao designer cubano Héctor Villaverde e Víctor Casaus — impulsionadora do projeto adiantou via e-mail, que a quarta exposição contará com trabalhos de oito designers estadunidenses: Ana Loriente Thurik, Anna Boyiazis, Elizabeth Berger, Henry Brimmer, Jesse Thomas, Nicky Alden, Karen Oh e Lillian Lee.

Pela parte cubana — a cifra sempre é idêntica — preparam obras Hector Villaverde, Eduardo Moltó, Rafael Morante, Katia Hernández, Kelly Núñez, Pepe Menéndez, Eduardo Marín e Luis Noa.

A arte digital, nova e sugestiva, chegou para ficar. A qualidade e diversidade dos trabalhos apontam para essa previsão. Aprecia-se a linguagem dos chips, ou seja, das novas tecnologias, utilizada em função de uma idéia. Já não é importante de que se trate do pincel ou do mouse. Como sempre, o relevante é o discurso artístico. Não há que ficar apavorados, os jovens artistas pertencem, definitivamente, à era da comunicação e da imagem.

FONTE: http://www.granma.cu/portugues/2007/julio/lun16/28digitalP.html

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